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Um retrato da saúde e bem-estar dos profissionais da música europeus
Prestar atenção à saúde e bem-estar dos profissionais é algo cada vez mais comum em todas as profissões.
Desta vez, a novidade é um relatório da Comissão Europeia que revela as preocupações com a saúde e bem-estar dos profissionais da música europeus, em especial depois das várias crises recentes, como a COVID-19.
O objetivo é criar as bases para novas políticas euopeias comuns a todos os países europeus, com vista à implementação de programas e iniciativas que ajudem os músicos e criadores musicais a cuidarem melhor da sua saúde física e mental.
Hoje, cá no blog, abro este espaço de reflexão, porque é importante estar bem para fazer seja que trabalho for. Por outro lado, muitas vezes na nossa sociedade, não se pensa a Música (e as Artes em geral) como sendo um trabalho, e este artigo é um contributo para mostrar o quão erradas podem estar essas ideias…
Sei que concordas comigo quando digo que é importante chamar a atenção para este tema. Portanto, vem daí descobrir comigo o que nos diz este relatório.
Os desafios da música enquanto profissão
— Mãe, quando crescer vou ser Músico!
— Músico?! Mas isso não é trabalho, filho! Onde é que já se viu um músico estar bem na vida?…
Muitas vezes, o desafio começa logo a partir de casa e deriva de um grande preconceito social que custa a desaparecer ao longo dos tempos.
No entanto, não é disso que nos fala o relatório da Comissão Europeia “The Health and Wellbeing of Professional Musicians and Music Creators in the EU – insights from research for policy and practice.”
Como demonstrado no exemplo acima, para criar e realizar música profissionalmente, é preciso uma grande resistência e resiliência física e psicológica.
De acordo com a Comissária Europeia para Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, Mariya Gabriel, os profissionais da música trabalham “num contexto de rápida mudança, onde a música é criada, distribuida, consumida e monetizada de maneiras completamente novas. O novo cenário cria uma pressão e stress extras em todos os profissionais da música, que agora precisam de uma série de outras habilidades (como competências digitais e de gestão), além do virtuosismo e proficiência.”
Muitas vezes falo disto nos cursos e workshops que dinamizo. É uma realidade que todos nós sentimos na pele todos os dias. O mundo está mais digital e as novas tecnologias aceleraram praticamente todas as áreas da nossa vida. Por um lado, isso traz-nos benefícios e facilidades, mas por outro, exige-nos uma grande capacidade de adaptação e aprendizagem constantes, que nem sempre é benéfica.
Na música europeia, em especial na área da música dita “clássica,” há ainda uma resistência muito grande à mudança. No mundo pop e rock, por exemplo, acontece o contrário, já que parece que muitos artistas e músicos abraçaram as novas tecnologias e encontram novos caminhos para criar negócios musicais a partir delas, ao mesmo tempo que difundem a sua música facilmente por essa via.
No entanto, é preciso compreender as resistências dos profissionais da música clássica. É difícil reinventar-se num mundo profissional altamente conservador, onde quem tenta inovar é, muitas vezes, mal visto e duramente criticado pelos seus pares.
Mas atenção: tal como as mudanças rápidas, também a excessiva resistência à mudança pode causar maior stress e ansiedade, já que é difícil estar sempre a “nadar contra a corrente.”
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Uma oportunidade para interagires com outros profissionais do sector cultural e criativo, incluindo o sector musical. Brevemente disponivel.
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A plataforma de marketing digital dos profissionais do sector musical, onde tens apoio profissional para divulgares quem és e o que fazes.
Os factores de risco para os profissionais da música
O relatório informa que os músicos profissionais e criadores musicais são vulneráveis a vários factores de risco para a sua saúde física e mental.
É frequente que estes profissionais sintam:
- Ansiedade de desempenho e social.
- Solidão.
- Insegurança financeira.
- Tensão e distúrbios físicos.
- Perda auditiva induzida por ruído.
- Distúrbios do sono.
- Danos vocais.
- Problemas devido ao uso de substâncias proibidas e álcool.
- Problemas de visão.
- Depressão.
Os riscos para a saúde dos profissionais da música são de 5 tipos:
- Traços de personalidade próprios e dificuldades de adaptação pessoal.
- Alto sentido de competição e falta de uma rede de apoio/contactos sociais.
- Risco físico devido à prática constante de tocar um determinado instrumento e à exposição a altos decibéis.
- Factores de risco relacionados com o ambiente de trabalho nas indústrias musicais (insegurança financeira e ocupacional, horários e condições de trabalho irregulares, fronteiras ténues entre a vida familiar e a vida profisisonal, dificuldade em gerir convenientemente trabalho-familia-lazer).
- Problemas sociais relacionados com a rápida e crescente digitalização, com a desadequação e falta de atualização dos programas académicos e educativos para músicos e com a falta de apoio social frequentemente sentida pelos profissionais da música.
Este quadro de saúde física e mental preocupa a Comunidade Europeia, que procura, através deste relatório, encontrar caminhos e exemplos de sucesso para trabalhar em soluções e políticas que ajudem a melhorar a política e a vida de milhões destes profissionais em toda a Europa.
As principais conclusões do relatório da União Europeia
Como soluções para melhorar esta realidade, o Relatório sugere e recomenda que:
- As autoridades nacionais e locais devem ter em maior atenção a saúde e bem-estar dos profisisonais da música.
- Todos os curriculos das escolas de música do ensino superior devem incluir uma componente obrigatória sobre os riscos e prevenção do bem-estar psicológico e mental dos músicos e criadores musicais.
- A terapia mental e física profissional é muito cara para a maioria dos músicos europeus, pelo que as autoridades devem fazer um esforço para tornar este tipo de cuidados médicos mais acessíveis para este profissionais.
- Devem ser criados guias informativos, gratuitos e acessíveis, que informem os músicos dos diferentes países sobre formas de cuidar da sua saúde física e mental e onde podem encontrar esses serviços de apoio.
- Devem ser criados mecanismos e regimes financeiros próprios e apropriados para apoiar os músicos na correta gestão da sua profissão. É sugerida, com base no exemplo francês, a criação de um esquema ou programa específico que permita a alternância de emprego/desemprego para os profissionais das artes performativas.
- Pode ser criado um programa de desporto específico para os profissionais da música, acessível e claro, disponível em todos os países europeus.
Cá estão ideias possíveis de realizar, mas nenhum de nós sabe ainda como é que estas sugestões vão ser implementadas na prática (ou se o serão verdadeiramente) e quando serão implementadas.
O facto é que o problema existe e os desafios são muitos. Até que as autoridades encontrem os caminhos para dar o seu contributo para a solução, cada um de nós é chamado a fazer a sua parte, desde o aceitar que a Música também é uma profissão e, como tal, há que haver respeito pelo trabalho de quem nela desenvolve a sua atividade, até aos pequenos cuidados de saúde e ao evitar situações menos agradáveis relacionadas com substâncias perigosas…
Tu que achas deste assunto?